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DESCOMODITIZAÇÃO, PRECISAMOS RETOMAR ESTA PAUTA (COM FORÇA!)
O momento é extremamente pertinente para voltar a levantar esta bandeira com afinco. Tenho destacando a importância deste tema desde 2006 que hoje se trata de um dos nossos mais relevantes vetores competitivos.
No decorrer da nossa história, no contexto do mercado internacional, assim como a dos demais países ainda “em desenvolvimento”, a nossa dependência pelas commodities sempre foi um fator extremamente desfavorável na balança comercial, além de se transformar em um enorme gerador de dependência tecnológica.
No ano de 2006, tive a oportunidade de visitar diversos parques tecnológicos na Espanha e tomei ciência de que naquele país, menor do que o estado de MG, já existiam mais de 50 parques tecnológicos, enquanto no Brasil tínhamos cerca de 12.
Essa missão foi definitiva para me convencer de vez, sobre a importância de ter essa vertente não apenas na esfera da política pública, mas principalmente das políticas de estado, com o sentido de desenvolver essas iniciativas em todos os territórios de um país como instrumento para o desenvolvimento socioeconômico e sustentável.
Após o desenvolvimento de diversas ações e palestras em caráter regional, estadual e nacional nessa direção, criei em 2014 uma matéria sobre a importância de investir no fomento à C&T+I como o caminho para a descomoditização, que se transformou no meu 1o artigo científico, publicado pela Revista Criativos da Associação Nacional de Inovação, Trabalho e Educação Corporativa, na qual pertenci ao conselho consultivo de inovação.
Esse artigo se transformou em um projeto que chegou a ser apresentado ao BID e depois no senado da Argentina, onde fui agraciado com uma distinção como líder latino-americano para o desenvolvimento sustentável.
Em 2015 fui novamente convidado para apresentar o projeto no senado argentino, durante a sessão prévia à entrega das distinções de reconhecimento dos líderes do ano, onde na ocasião estavam diversas autoridades e lideranças, entre eles o então Ministro da C&T do Brasil, o qual se interessou pela iniciativa e me convidou em 2016 para apresentá-lo em Brasília.
A aceitação foi ótima e de grande pertinência para o momento, mas infelizmente o caminho não é apenas longo e difícil, também está sujeito às mudanças de gestões governamentais, as quais normalmente são as que impedem a conclusão plena das iniciativas que dependem de transversalidade de mandatos.
Contudo, considero que sempre consegui consolidar muitas boas pegadas nessa caminhada, assim como humildemente contribuir com a difusão da cultura de inovação e despertar diversos atores a voltar a mirada para a importância de investir em Parques Científicos e Tecnológicos como via de transformação e descomoditização do País.
O conceito de descomoditização está em afastar-se da volatilidade econômica de mercadorias, aproveitando a vantagem de ter commodities que fornece riquezas estrategicamente importantes para o mundo e passar a desenvolver a ciência, tecnologia e inovação para criar valor agregado a esses produtos e novas alternativas no âmbito de atividades, preferencialmente sustentável, por meio da gestão do conhecimento.
Resumindo, descomoditizar é a estratégia de atribuir características únicas a um produto, transformando-o de commodity a um bem diferenciado, com alto valor agregado.
Com o recente anúncio sobre a queda acentuada na demanda siderúrgica, devido à queda na demanda da China, novamente nos encontramos em cheque no campo da competitividade e até mesmo na subsistência de algumas indústrias.
O Brasil evoluiu muito nessa direção, mas ainda precisamos falar, e principalmente, fazer muito mais sobre este assunto, com ressalva ao estado do RJ, que perdeu bastante do seu protagonismo nessa vertente. No que tange as regiões, a Sudeste ainda se mantém em uma apertada liderança, a região Sul avança de forma exponencial e outras regiões, com destaque para o Centro-Oeste e Nordeste, seguem realizando ótimos projetos, ganhando o seu espaço a cada dia.
A promoção da indústria quaternária (a do conhecimento) é a mais limpa e profissionalmente rentável que pode existir. Os Parques Científicos e Tecnológicos (PCTs), são importantes ambientes para o desenvolvimento dessa indústria, onde se exploram, dentro do conceito de tripla hélice, sinergias entre institutos de pesquisa, governo e iniciativa privada.
As iniciativas de parques se iniciaram no Brasil em 1980 e multiplicaram-se ao longo do tempo, apresentando um crescimento considerável, passando de 10 em 2000, para 103 em 2017, sendo 37 em fase de projeto, 23 em fase de implantação e 43 em fase de operação. As iniciativas de PCTs estão espalhadas geograficamente pelo país, contemplando uma área construída de mais de 3 milhões de m2.
A despeito da concentração nas regiões Sul e Sudeste, já existem parques em operação em todas as regiões brasileiras.
Para finalizar, destaco um trecho do prefácio da publicação do MCTIC Indicadores de Estudo de Projetos de Alta Complexidade - PARQUES TECNOLÓGICOS, de autoria do nosso eterno astronauta, Dr. Marcos Cesar Pontes, ex. Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do Brasil.
“Temos um grande desafio, o de impulsionar ainda mais a pesquisa de alto nível, o conhecimento científico e propor soluções diante de um cenário com recursos que não são os ideais, mas que, ainda assim, possibilitam uma grande oportunidade para construirmos um legado utilizando a educação, a inovação e o empreendedorismo. Precisamos que nossos parques tecnológicos brasileiros sejam celeiros de inovação digital, tecnológica e social. É essencial apoiá-los como agentes do desenvolvimento regional nos municípios, pois eles estão próximos das demandas da população e dialogam com os diversos atores públicos nessas regiões. Os novos tempos mostram que algumas inovações estão muito próximas como, por exemplo, nos seguintes campos: IoT (Internet of Things/Internet das Coisas), a tecnologia 5G nas Telecomunicações, as Smart Cities, o Transporte de Massa, as Tecnologias Verdes, a Indústria 4.0, a Inteligência Artificial e a aplicação da sustentabilidade em tudo o que desenvolvemos. São temas que precisam ser incorporados a projetos e programas que buscam inovações para cenários atuais e um futuro desejado.”
Segue o link para o meu artigo correspondente, publicado em 10/08/2016:
Autor: Gustavo Miguelez
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