Para grande parte das empresas, a adaptação aos novos tempos é inevitável, uma questão de vida e morte. Para outras, a adaptação é uma recomendação, uma medida preliminar de segurança.
Empresas as quais tenho mais experiência profissional voltadas ao setor da construção em geral estão mudando em função de pressões externas e internas inéditas tanto na variedade como na intensidade e alguns eventos estão sinalizando a chegada de novas empresas cocriadas neste novo ambiente de negócios entre presencial e remoto.
Seus colaboradores hoje são mais educados e reivindicadores do que nunca: muitas decisões estão dispersas no meio de um corpo enorme e diversificado de especialistas e gerentes, as forças políticas internas estão mais intensas e competem com a própria empresa pela energia vital de suas equipes.
A transformação digital relacionada com a tradicional gestão das empresas está provocando mudanças até mais intensas que as causadas pela tecnologia de processo de fabricação no final do século passado. Novas premissas, adequadas a novos fatores, devem orientar o projeto das empresas destinadas a sobreviver e prosperar nos novos tempos.
Ponto de Partida
Muitas das empresas estabelecidas no país, da forma como conhecemos, foram montadas a partir da década de 40, projetadas e administradas por pessoal estrangeiro ou nacional. Desta forma, tais empresas importaram diretamente os ensinamentos e modelos de administração que estavam sendo desenvolvidos majoritariamente nos Estados Unidos ou Europa.
Isso ocasionou o superdimensionamento da burocracia, o excesso de controles e, por vezes, o não atingimento de resultados, além, é claro, da baixa capacidade de competir globalmente. Com isso, calcula-se que estamos ao menos uma década atrás dos americanos ou europeus na busca dos mecanismos adequados de reformulação dos negócios.
Pessoas no Centro da Equação?
Entramos numa nova fase, na qual cada vez menos colaboradores serão necessários para produzir os bens e serviços necessários para a população em geral. As empresas estão substituindo seus empregados full-time por empregados em tempo parcial ou PJ. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz, globalmente, a crise do COVID-19 fez desaparecer 6,7% das horas de trabalho, o que equivale a 195 milhões de trabalhadores em tempo integral. Isso supera em muito os efeitos da crise financeira de 2008-2009.
Os setores mais afetados incluem serviços de hospedagem e de alimentação, manufatura, varejo e atividades comerciais e administrativas. Percebe-se hoje que a economia tem uma boa dose de capacidade ociosa, mas no âmbito dos indivíduos e não das organizações.
A eliminação de cargos de trabalho provocada pela reorganização do trabalho a distância, projetos de adequação da capacidade produtiva face a demanda e outros durante e pós pandemia, deverão continuar pelo futuro previsível que já estamos vivenciando hoje.
Novos Rumos Contra a Clássica Administração
Como tudo o que sabíamos ou conhecíamos está sendo duramente questionado, os executivos principais das empresas estão passando a duvidar de sua competência para manter suas empresas crescendo nestas duas primeiras décadas do século 21. Ou seja, isso não é um fenômeno que surgiu agora. Um exemplo claro de ideia que não funciona mais é o tamanho da empresa.
Há algum tempo, o tamanho da empresa era um asset estratégico e uma barreira contra a entrada de novos concorrentes. De uns tempos para cá, o tamanho da empresa pode ser até uma desvantagem, pois as grandes empresas estão passando por dificuldades por causa de seu gigantismo ou estão procurando maneiras de evitar maiores problemas por causa de seu tamanho.
Seus novos concorrentes - cito aqui as start-ups - parecem competir com um jogo diferente de regras, desconhecidas até há pouco. Pequenas empresas estão desafiando gigantes multinacionais por venda de melhores serviços, mais versáteis e econômicos do que tínhamos hoje no mercado.
Isso acontece porque as grandes empresas gastaram parcela crescente de sua energia e recursos com a sua própria organização e não com o seu negócio. As hierarquias aumentaram muito de tamanho nas últimas três décadas, segundo dados obtidos através dos boletins da FGV.
A característica mais óbvia da evolução das hierarquias foi a criação de camadas administrativas adicionais para acomodar o crescimento organizacional. E isso agora precisa ser alterado drasticamente em favor dos negócios como forma pura e simples de sobrevivência e competitividade.
Tecnologia e a Transformação das Empresas
A transformação das empresas que hoje se prega visa a atacar diretamente as mais frequentes fontes de inércia: a aceitação das formas tradicionais de fazer negócio, a utilização da tecnologia de informação para a automação das formas antigas de trabalhar, congelando-as, a resistência em evoluir na direção de estruturas baseadas na utilização de dados e não de achismos e principalmente implantação de programas de diversidade e retenção de talentos.
As comunidades locais têm pressionado as empresas por causa dos empregos perdidos e as empresas e sindicatos se sentem acuados. Na verdade, temos uma somatória de efeitos: por um lado o superdimensionamento da mão-de-obra resultante da utilização de padrões elásticos e adequados à época de fartura e por outro a redução da mão-de-obra necessária por causa da tecnologia.
O resultado é um excesso de mão-de-obra em determinadas atividades e em alguns setores que precisa ser eliminado mais cedo ou mais tarde e a empresa contemporânea deverá conseguir fazer essa modificação.
Abaixo temos os fatores críticos de sucesso que estão sendo revistos neste novo ambiente de negócios, também respaldados por relatórios da FGV:
- Produtividade dos "trabalhadores do conhecimento" e prestadores de serviços;
- Qualidade do produto e do serviço;
- Capacidade de resposta aos desafios de todo tipo;
- Globalização dos mercados, das operações e da concorrência;
- Outsourcing de certas atividades de produção, distribuição, vendas, serviços e funções de suporte;
- Partnering e a formação de alianças estratégicas;
- Responsabilidade social e ambiental.
Enfrentando o Desafio
As pressões por mudanças nas empresas já estão ocorrendo de forma muito clara e intensa, mas indústrias inteiras, desde os serviços bancários até a indústria de transformação, têm sido incapazes de avaliar corretamente a velocidade e o escopo dessas mudanças.
No fundo, as empresas precisam mudar porque não estão adequadas aos novos valores (direcionamento ao cliente, qualidade como centro das decisões e importância do negócio).
Por outro lado, o ciclo se fecha quando as mudanças criam necessidades não satisfeitas por tomarem obsoletos os arranjos técnicos, econômicos e organizacionais existentes, que devem, então, ser substituídos. A transformação do negócio é o principal desafio das diretorias e a mais importante, se não a grande, tarefa dos líderes de negócios daqui para diante.
As novidades de todo tipo e as pressões dos negócios estão levando as empresas a desenvolverem novas competências, de maneira consciente e voluntária. O domínio dessas novas competências e o preparo para explorá-las vai levar a novas estruturas organizacionais e a novas formulações de negócio. As empresas, seus diretores e seu pessoal precisarão estar aptos a participar dessa transformação.
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