Não sei vocês, mas lá em casa quem dava as cartas era minha mãe. E não era só em minha casa, não – e, portanto, não era só minha mãe. A brincadeira corrente na cidade era a de que os maridos tinham sempre a última palavra: "Sim, querida". Obviamente, um chiste catártico para desvalidar uma verdade que incomodava.
Fato é que, tivesse minha mãe ocupado alguma top position empresarial, ela teria replicado no "trabalho" a competência e a seriedade com que conduzia as atividades no lar: da compra de matéria-prima à sua transformação em produtos deliciosos; do cuidado na alocação de capital à atenção que dedicava a seus stakeholders (que não éramos poucos...); de seus skills de liderança à capacidade de moldar valores e de planejar futuro.
Mas ela e milhões de outras mulheres nunca preencheram uma top position de uma grande, média ou pequena empresa que fosse. Na verdade, tivemos que esperar várias décadas até atingir a marca em que nos encontramos hoje (e que ainda não é exatamente algo to be writing home about): 48% da força de trabalho mundial são mulheres, mas apenas 29% no C-level. Não podemos negar que seja um avanço, mas ainda há muito chão pela frente.
Palmas, portanto, às ainda poucas mulheres que chegaram lá. E que o barulho acorde todos aqueles (masculino, plural) que continuam vivendo a ilusão de que o caminho para o topo tenha a ver com cromossomos – e não com como somos e o que fazemos.
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