Lembro-me do final dos anos 90, quando iniciei minha formação na FEI após uma jornada pelo Senai Suíço-Brasileiro. Naquela época, a engenharia era vista como a porta de entrada para um mundo repleto de tecnologia e oportunidades.
A turma estava cheia de sonhadores que admiravam os engenheiros de sucesso das grande empresas do ABC Paulista. Nesse período, o curso de engenharia experimentou um verdadeiro “boom”, com faculdades abrindo turmas noturnas para atender à crescente demanda de pessoas que já estavam no mercado de trabalho e que desejavam investir em sua formação.
Desde que me formei, acompanhei como muitos dos meus colegas de turma, de forma natural, acabaram migrando para carreiras em bancos e administração, deixando para trás o laboratório e as pranchetas. A demanda por engenheiros em pesquisas e desenvolvimento de tecnologias no Brasil parecia diminuir e o prestígio associado à profissão também.
Bem, aqui estou eu, aos 43 anos, não exatamente seguindo o caminho que imaginei quando era jovem. Por acaso e, também por afinidade, minha carreira me levou para posições gerenciais em administração - onde sou muito feliz e realizado - e ao longo dos anos, tenho observado uma mudança interessante no cenário que tanto me inspirou na juventude.
Na última década, o entusiasmo pelo curso pareceu esfriar um pouco. Afinal, será que hoje em dia os jovens se interessam menos pela engenharia, ou será que o mercado brasileiro é que está impondo novas condições?
Analisando os dados fornecidos pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), percebemos uma diminuição no número de ingressantes no curso de engenharia desde 2014 (abaixo, link para matéria). Isso começou a refletir em menos engenheiros formados em 2019 (após 5 anos, tempo típico de formação em engenharia). Mas por quê o jovem brasileiro está cada vez menos interessado no curso de engenharia?
Vejo com frequência reportagens sobre o déficit de engenheiros no Brasil para suportar o crescimento econômico dos próximos anos (abaixo, link para uma delas). Ou seja, precisamos de engenheiros e ao mesmo tempo temos visto queda de calouros nos cursos de engenharia. Por outro lado, também vemos histórias como a do “engenheiro que virou suco”, pizzaiolo ou motorista por aplicativo. Difícil de entender, né?
Uma possível explicação para isso pode estar na falta de indústrias medium/high tech no Brasil em comparação com países como os Estados Unidos, China e da Europa. Esses países oferecem um ambiente mais propício para engenheiros que desejam explorar novas fronteiras tecnológicas e inovar em suas indústrias.
Além disso, temos que considerar o passivo histórico de medidas protecionistas adotadas pelo governo brasileiro ao longo das últimas cinco décadas. Embora destinadas a fortalecer a indústria nacional, essas políticas podem ter limitado a exposição dos engenheiros brasileiros a práticas globais mais inovadoras.
Mas nem tudo está perdido! Felizmente, nos últimos anos, temos visto um crescente reconhecimento da importância dos engenheiros para impulsionar a inovação e o desenvolvimento econômico. A indústria medium/high tech brasileira está se expandindo, e surge um otimismo renovado em relação ao futuro da engenharia no país.
O desafio agora é despertar novamente o interesse dos jovens pela engenharia, investir em indústrias de ponta e repensar as políticas que possam estar limitando o potencial dos nossos engenheiros. Faz sentido?
Link para dados FAPESP:
Link para Matéria sobre déficit de engenheiros:
https://istoe.com.br/brasil-precisa-de-engenheiros-e-o-problema-esta-longe-de-uma-solucao/
To be able to comment, please log in by clicking the button below.
Login