Quem não gosta de uma boa história? Por mais que você tente, será praticamente impossível encontrar alguém que declare não gostar de ouvir uma boa narrativa. Você certamente já se sentiu envolvido ao ler um bom romance, já se empolgou ao assistir um filme de aventura ou se emocionou ao ouvir um relato sobre algo comovente. Seja algo contado de boca em boca, no formato de um livro, em uma peça de teatro ou em um filme, a boa história tem o poder de envolver o público, pois o faz conectar-se às emoções.
A conexão emocional com as narrativas não é um fato recente. Desde os primórdios, quando os primeiros homens habitavam as cavernas, nossa espécie tem a necessidade de compartilhar histórias. Há mais de 30 mil anos, os homens da pré-história pintavam gravuras de seu cotidiano sobre as paredes e tetos de cavernas, abrigos rochosos ou mesmo sobre rochas ao ar livre. As chamadas artes rupestres eram narrativas visuais sobre as caçadas e o cotidiano. Dessa forma, eles compartilhavam suas histórias em linguagem visual, muito antes de surgir a linguagem escrita.
Para Yuval Noah Harari, professor israelense de História e autor dos best-sellers internacionais "Sapiens: Uma breve história da humanidade", "Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã" e "21 Lições para o Século 21", as histórias fazem parte do desenvolvimento de nossa espécie. Segundo o estudioso, "desde a Idade da Pedra, mitos que se auto reforçavam serviram para unir coletivos humanos. O Homo sapiens conquistou esse planeta graças, acima de tudo, a capacidade exclusiva dos humanos de criar e disseminar ficções."
O intelectual, reconhecido mundialmente por ser um dos pensadores mais relevantes da atualidade, afirma ainda: "Somos os únicos mamíferos capazes de cooperar com vários estranhos porque somente nós somos capazes de inventar narrativas ficcionais, espalhá-las e convencer milhões de outros a acreditar nelas. Enquanto todos acreditam nas mesmas ficções, todos nós obedecemos às mesmas leis e, portanto, cooperamos efetivamente."
Ao longo do tempo as histórias sempre motivaram pessoas a cooperarem por um objetivo comum. Elas costumam ser muito mais eficientes ao transmitir conhecimentos, pois muito mais do que fornecer informações, elas provocam uma espécie de catarse, fazendo com que o público se identifique com personagens e situações ilustradas na narrativa. Talvez o melhor exemplo de livro contendo histórias para difundir conteúdos seja a Bíblia. Em um só volume foram compiladas várias histórias de cunho religioso, em formato de parábolas, que difundem conceitos complexos sobre a religião. Dificilmente a Bíblia seria o sucesso editorial que é se fosse meramente uma obra didática contendo ensinamentos religiosos. Os conteúdos em formato de histórias tornam a Bíblia, um livro muito mais interessante e envolvente, fazendo com que o leitor assimile os conceitos de forma mais fácil.
No marketing e na publicidade, também há o emprego de narrativas para transmitir a história, os valores e as qualidades das marcas e dos produtos. Além de oferecer um benefício material, as empresas têm buscado, cada vez mais, contar histórias que levem os consumidores a criar vínculos emocionais ao ter contato com produtos ou serviços de uma determinada marca. Essa é a chamada história da marca ou storytelling em inglês.
A história da sua marca conta sobre quem ou o que a sua marca é, quais são seus valores, o que faz e como ela pode ajudar as pessoas. A história da marca é a razão dela existir e o porquê de as pessoas interagirem com sua marca e seu negócio.
Quando, por exemplo, a Apple conta a sua história ligada à inovação tecnológica e utiliza como slogan a frase "think diferent" (pense diferente), ela está se posicionando como um produto diferenciado e associado a usuários seletos e originais, que não pensam ou agem como a maioria das pessoas. Dessa forma, a história da marca cria uma conexão emocional na mente dos consumidores, gerando identificação com a marca e os produtos.
Embora os produtos da Apple sejam, de forma geral, semelhantes aos concorrentes, mesmo assim, com uma boa linguagem e história da marca, ela terá ganhos de percepção de valor frente aos consumidores, sendo vista como uma marca com mais qualidade que as concorrentes.
Se você é empreendedor e já tem ou pretende criar uma empresa, deverá montar seu modelo de negócio pensando em vários aspectos como concorrência, sustentabilidade financeira, oportunidades de mercado, no benefício oferecido pelo seu produto ou serviço e também na história que sua marca vai contar. Será na história da sua marca que você poderá demonstrar aos clientes e consumidores a razão da sua empresa existir, qual seu propósito e valores e, sobretudo, por que o consumidor deverá escolher o seu produto e não o do concorrente.
Qual é a sua história e por que você faz o que faz? A resposta a essas perguntas já pode ser um bom começo para que você use o poder das histórias a favor do seu negócio.
Sérgio Merli
Sérgio Merli é profissional de marketing, ilustrador e escritor. Está à frente da Merli Design, uma consultoria de marketing e comunicação com foco na valorização de marcas. Merli escreveu e ilustrou dez livros publicados pelas editoras Suinara e Melhoramentos. Para saber mais, visite o site: www.merlimarketing.com.br
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